sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Demora


A Demora

O amor nos condena:
demoras mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.   

Perdido o lugar em que te aguardo,
só me resta água no lábio para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca e a noite,
já sem voz se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Mia Couto, in " idades cidades divindades"

Sem comentários: