sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ludibriando o ego

Teu olhar procuro
Para sossegar meu coração galopante
Que mais galopa na iminência de te encontrar.
Porém, quando te encontro
parada fico.
Alagada pelo forte instinto
de te falar.
Mas ali me quedo
Quase a medo....
meus olhos o chão procurando.
Mas se algum dia os teus encontrarem, te dirão
na minha mais bela expressão,
no meu mais singelo e puro sorriso
tudo o que o meu coração, envergonhado,
guarda dentro de si.
Pestanejar seria perder tempo diante de ti;
fixa no teu verde olhar
viajaria pelos meus mais sonhados sonhos,
calcorrearia os meus mais belos e imaginados trilhos,
drogaria todos os meus sentidos
com as mais inesperadas sensações.
E, subitamente, tudo se transformaria.
Março 2008
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(…)
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(…)
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.


 
Fernando Pessoa, 1888-1935, poeta português, Tabacaria